No livro Espelho mágico, Mario Quintana escreveu Das utopias, um dos seus poemas mais cheios de faltas: 
"Se as coisas são inatingíveis... ora!/Não é motivo para não querê-las.../Que tristes os caminhos, se não fora/A mágica presença das estrelas!" De fato, o que seria do desejo, se tudo fosse sempre alcançável antes de logo, sem lonjuras impalpáveis, véus de adiar vista, impedimentos que abrem vontade? Essa é uma das tantas provocações levantadas por Lucia Moretzsohn, na série Desejo em suspensão. Levantar provocação é mesmo um dos dons da Lucia, que extravia contornos para realçar subterrâneos, desalinha peles para perfumar desordens, abaixa tons para escutar a música das cores, amarrota superfícies para emergir funduras. Entre superfícies amarrotadas e funduras emergidas, Desejo em suspensão reflete a obsessão da artista por misturar delírios para revestir realidades, recortar fumaças para desconter formas, enredar brumas para anoitecer ambiguidades. Mais do que tudo, contemplar uma imagem da Lucia Moretzsohn é atravessar abismos nas encostas da estranheza, pendurar-se no infinito das brechas, acender breus debaixo de elevações íntimas, permitir suspensões para trazer-se de volta, na inteireza de um fragmento disforme, no vazio de uma víscera aparecida, na veia de uma falha assumidamente desejada.   
Márcio Vassallo, escritor
O princípio das formas abertas
Inversões para o vazio
Na distância de uma falta
Vislumbre de um silêncio
Pausa para contornos
A vontade imprecisa
Cadência aflorada
Rumor de um tempo inesperado
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